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Artigo | A Economia Solidária e os desafios do governo democrático e popular

O Mundo do Trabalho é o lugar da Ecosol e estas interrelações são parte das formulações a aprofundar!



De Edson Leonardo Pilati*
Por Brasil de Fato | Porto Alegre | 23 de Novembro de 2022 


"A ecosol no Brasil tem grandes expectativas em relação ao próximo período e está sendo fortalecida pelos diálogos e pela mobilização da sociedade organizada" - Foto: Divulgação

A destruição do Estado de bem-estar social promovido pelo projeto autoritário/neoliberal terá, a partir da vitória das forças democráticas, a necessidade de sua reversão a partir de programas coerentes com ações efetivas voltadas ao desenvolvimento, crescimento econômico, geração e distribuição de renda e riquezas com democracia participativa, ou seja, aquilo que está descrito nos programas apresentados!

O Núcleo de Apoio às Políticas Públicas de Economia Solidária (NAPP) da Fundação Perseu Abramo, instituído recentemente para contribuir na elaboração deste programa de Reconstrução e de Transformação do Brasil, avançou na elaboração de uma estratégia que considera um processo social e econômico que responda aos atuais problemas vividos pela classe trabalhadora. Destaca-se o Seminário: Resistência, Travessia e Esperança das Bancadas Federais do PT (Câmara e Senado) da Fundação Perseu Abramo e Instituto Lula, aprovamos e realizamos um seminário próprio para debater a Economia Solidária (ecosol) e homenagear o economista e sociólogo, professor Paul Singer.

Os participantes foram categóricos ao afirmar que as políticas públicas para implementação e expansão da ecosol no Brasil precisam ser estratégia central para que o próximo governo consiga reverter os altos índices de desocupação, gerar trabalho e renda nas comunidades além de melhorar as condições de vida dos trabalhadores e trabalhadoras atualmente subutilizados.

Destaca-se nesta eleição uma intensa mobilização da sociedade na defesa da democracia, que não pode se dar por encerrada e deverá ser perene para construir e garantir uma governabilidade que, só será possível pela intensa participação popular. As forças conservadoras não estão politicamente derrotadas, mantiveram uma força significativa na sociedade, no Congresso Nacional, nos estados e municípios e, sobretudo, nas organizações patronais/empresariais.

Torna-se primordial a construção dos diálogos e enfatiza-se a mobilização da ecosol em suas múltiplas formas de organização e de representação em diversos segmentos e setores econômicos, sociais, culturais, científicos e tecnológicos e formativos da sociedade, para esta participação nos diálogos em construção.

A organização política da sociedade tem demandas que só poderão ser atendidas com ações governamentais, traduzidas em políticas públicas. Desta forma, o Estado deve oferecer à participação popular um diálogo permanente que permita o exercício do Controle Social, bem como um subsídio acerca das suas necessidades, visando a geração de trabalho e renda, tanto em territórios rurais como urbanos.

O governo democrático e popular construirá uma política pública de geração de trabalho e renda sobretudo a partir da participação popular, o que inclui fortemente o movimento da ecosol e os programas e ações, sejam um “resultado do diálogo” com as suas organizações de Luta e se realize nos espaços institucionais.

Os processos econômicos, sociais, culturais e políticos terão suas demandas atendidas satisfatoriamente pelo projeto democrático popular do novo governo, na medida que tenham em conta a valorização dos planejamentos coletivos e participativos, os quais são fundamentos da organização solidária coletiva e integradora.

O essencial é saber que estas políticas e práticas disruptivas em relação a governança do Estado leva em consideração este novo modelo econômico, caracterizado pela ecosol, que é proposto também pelo Papa Francisco e é elemento central para a construção de uma sociedade mais justa, democrática e igualitária.

Cabe ainda falar sobre as Redes Econômicas Solidárias (Redes Campo & Cidade) que dinamizam e dotam de escala as relações locais e territoriais; geram riquezas e solidariedade no enfrentamento a fome e a violência, vem se demonstrando um potente e imprescindível instrumento de organização para o combate à miséria e degradação das condições de vida. Como exemplo, temos a produção de alimentos saudáveis, com as Redes Sustentáveis de Produtos Orgânicos que são fruto do Movimento Agroecológico nas comunidades e povos do campo e das florestas, da Agricultura familiar camponesa. A comercialização em redes mais expandidas, nacionais e internacionais, é outro exemplo.

Por isso, é fundamental ter a ação do Estado para oferecer uma assessoria técnica e uma formação gerencial adequada à orientação de mercado, além do esforço de organização para as compras governamentais, garantidoras de um escoamento, que potencializa um planejamento de produção e a viabilidade econômica dos processos em curso.

Para isso, é necessária uma formação e assessoria técnica permanente. Assim, não poderia deixar de citar a necessidade de reformulação, reedição e fortalecimento do antigo PRONINC, Programa do Ministério da Ciência & Tecnologia com Incubadoras Tecnológicas de Ecosol e Cooperativas Populares nas Universidades pelo Brasil, garantindo a assistência e o fomento ao desenvolvimento em suas regiões de atuação, normalmente com abrangências macro territoriais.

Entre muitas ações, destaca-se o cooperativismo de plataforma, em programas das incubadoras ou por projetos de extensão de ensino/pesquisa em universidades e institutos federais. Para isso, a organização dos motoristas de aplicativos e dos entregadores são instrumentos que fortalecem a organização econômica autônoma e autogestionária e enfrenta a ultra exploração das grandes empresas que usam da terceirização e da desregulamentação e precarização das relações de trabalho.

Ou seja, essencial para enfrentar a hiper exploração da classe trabalhadora e abrir os diálogos para um novo código do trabalho que possa garantir direitos sociais e trabalhistas. O Mundo do Trabalho é o lugar da Ecosol e estas interrelações são parte das formulações a aprofundar!

Além da formação continuada, a ecosol necessita de investimentos do Estado, em crédito e dos investimentos a fundo perdido, por projetos sociais, culturais e pela valorização dos processos representativos das comunidades, que fortaleçam o desenvolvimento em aspectos econômicos e organizacionais e que permita o crescimento com a expansão dos empreendimentos da ecosol em rede. A produção em escala e a comercialização são um gargalo das redes econômicas solidárias!

Cabe dizer que, imprescindível é o projeto pedagógico de formação em autogestão (omnilateral) integral - técnica profissional - disruptiva - que em oposição à atual pedagogia “dualista” instrumentalista das habilidades humanas para servir aos processos produtivos de acumulação e de exploração pela classe proprietária.

No entanto, além do crédito, da capacitação, assistência técnica, o fomento e de investimentos públicos, deve-se priorizar um método de construção (concepção) das políticas públicas, programas e projetos que atendam o desenvolvimento da economia participativa e democrática, lembrando (fortemente) que a organização econômica coletiva é um caminho oposto à visão da organização econômica individual (empreendedorismo) que tem em sua gênese os valores liberais de derrotar os concorrentes para vencer e ter sucesso econômico.

Fala-se, portanto, de fortalecer a economia popular como uma nova cultura de produzir, comercializar e consumir, ou seja, a construção da ecosol. Faremos a organização das múltiplas representações, para que de forma comum, possamos garantir uma “não disputa” e sim uma “sistematização” para uma gestão/ governança participativa. Para isso, é fundamental que constituída a transição se construa espaços transversais no governo popular e democrático inserindo a ecosol!

A ecosol no Brasil tem grandes expectativas em relação ao próximo período e está sendo fortalecida pelos diálogos e pela mobilização da sociedade organizada. A participação popular é essencial para a governabilidade e a democracia participativa é um dos princípios da autogestão e da organização econômica de novo tipo: uma economia social, popular e solidária, uma economia humanista não excludente ou competitiva.

Uma nova política de inclusão e de distribuição de riquezas produzidas é um desafio que deverá ir além das políticas de distribuição de renda, de assistência aos mais necessitados, é preciso trazer à pauta o desenvolvimento econômico em sua base produtiva nacional com a valorização do trabalho.

Esta nova forma de “fazer economia” de produzir, gerenciar e consumir distribuindo, promovendo o crescimento e a inclusão” estará nos “eixos do debate” que ocorrerá na VI Plenária Nacional de Economia Solidária, que ocorrerá dias 6 a 10 de dezembro em Brasília e que contará com mais de 300 representantes (delegação) de todos os estados do Brasil e que integram o Movimento Nacional da ECOSOL.

Vamos avançar e construir a governabilidade com participação popular e pela democracia econômica com inclusão (com e pelo) desenvolvimento integral da sociedade com proteção do planeta e a promoção da saúde humana e ambiental!

É essencial, portanto, uma participação na composição e estruturação de uma governança transversal no governo Lula/2023-2026

Viva a Economia Solidária – Viva a Democracia!

* Historiador, com MBA em Autogestão e Economia Solidária. Coordenador da Unisol Brasil/Paraná e Conselheiro Titular do Conselho Estadual da Economia Solidária do Estado do Paraná. Integra o NAPP Economia Solidária da Fundação Perseu Abramo. Integrante da equipe de assessoria técnica da Transição junto ao GT Indústria, Comércio e Serviços, Micro e Pequenas Empresas e Economia Solidária!

** Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Katia Marko

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