A reportagem é publicada por Agência Ecclesia, 28-06-2022.
Encontro em Lisboa, sobre a Conferência dos Oceanos, alertou para impactos das alterações climáticas.
D. Peter Chong, arcebispo de Suva, nas Ilhas Fiji, e presidente da Federação das Conferências Episcopais Católicas da Oceania (FCBCO), alertou hoje em Lisboa para a necessidade de superar um paradigma “tecnocrático” na luta contra as alterações climáticas.
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Foto: Agência Ecclesia |
“A crise ecológica acontece porque há uma crise interior”, referiu o responsável católico, na iniciativa ‘Oceania Talanoa’ – palavra que remete para um termo local das Fiji, que descreve um diálogo participativo, que decorreu no Colégio Pedro Arrupe, à margem da Conferência dos Oceanos da ONU.
O presidente da FCBCO denunciou as dificuldades colocadas às mudanças, pedindo mais espaço para a “linguagem espiritual, simbólica, artística”.
“Que linguagem chega ao coração das pessoas e leva à mudança? A mudança começa pelo coração”, sustentou.
O arcebispo das Fiji apontou limitações da linguagem científica e acadêmica, de um pensamento “antropocêntrico” e marcado pelo “poder do dinheiro”.
“Estamos a tentar reparar o mundo sem fazer menção a quem fez o mundo”, acrescentou D. Peter Chong.
O jesuíta Pedro Walpole presidente do Instituto de Ciências Ambientais para a Mudança Social, nas Filipinas, e coordenador global da Ecojesuíta, desafiou os consumidores de todo o mundo a ser “parte da solução” em vez de aumentarem o problema, “ligando o ar condicionado”.
“Estamos todos ligados pelo oceano”, observou, realçando que o papel do mar na diminuição da temperatura global está atualmente “ameaçado” pelas alterações climáticas.
Theresa Ardler, agente de ligação de pesquisa indígena da Universidade Católica Australiana, cresceu numa comunidade aborígene piscatória, que acredita vir do mar e que, após a morte, regressa ao Oceano para se transformar em baleias-jubarte.
A convidada questionou a falta de valorização desta relação ancestral com o oceano

Foto: Agência Ecclesia
“Sinto que os indígenas de todo o mundo não têm voz”, lamentou.
Pelenatita Kara, do Fórum da Sociedade Civil de Tonga, emocionou-se ao falar do oceano como uma “pessoa”, que assobia, grita ou canta e que, agora, alerta para o mal que lhe foi provocado.
“Apontamos uma arma carregada à própria cabeça”, advertiu.
Tevita Naikasowalu, coordenador do Departamento de Justiça, Paz e Integridade da Criação dos Missionários de São Columbano nas Fiji, chorou ao falar das “pessoas sem voz”, do sofrimento dos seus antepassados, que veio representar em Lisboa, à custa das poupanças de toda a sua vida.
“Temos de viver com mais simplicidade”, recomendou.
A irmã Robyn Reynolds, professora na Yarra Theological Union, Austrália, viveu durante várias décadas no deserto australiano, mas deixou uma certeza: “Sou oceano”.
A sessão concluiu-se com a música ‘Lamento da Oceania’: “Poluição, mineração e alterações climáticas/Tudo o que precisamos é de uma oportunidade/Para viver e ser livres, apenas”.
Uma delegação de grupos católicos da Oceania participa pela primeira vez no evento das Nações Unidas.
A conversa foi moderada por Amy Echeverria, co-coordenadora da Taskforce de Ecologia do Vaticano e membro da Sociedade Missionária de S. Columbano, EUA.

Foto: Agência Ecclesia
Esta iniciativa foi uma parceria entre o presidente da Federação das Conferências de Bispos Católicos da Oceania, a ‘Task Force’ de Ecologia da Comissão Covid-19 do Vaticano, o ‘Institute of Environmental Science for Social Change’ (ESSC), a Sociedade Missionária de São Columbano, a Sociedade dos Missionários do Verbo Divino, a ‘Gweagal Cultural Connections’, a Cáritas Internacional, a Cáritas Oceania, a Cáritas Portuguesa, a Congregação das Irmãs de São José da Paz, a Congregação das Filhas de Nossa Senhora do Sagrado Coração, a Conferência Jesuíta do Sul da Ásia, o Movimento ‘Laudato Si’ e a Universidade Católica da Austrália.
Portugal, em conjunto com o Quênia, organiza até 1 de julho a segunda Conferência dos Oceanos, sob o lema “Salvar os Oceanos, Proteger o Futuro”.
O Governo português espera ver aprovada uma ‘Declaração de Lisboa’, que ajude a concretizar o ODS 14, acelerando o combate à poluição e reforçando a preservação da biodiversidade e a sustentabilidade.
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