Por Margareth Dalcolmo
Ômicron | REUTERS |
O momento é positivo, sem dúvida, a despeito da nova cepa ou de eventuais novas variantes, com o impacto das vacinas. O último estudo publicado pelo CDC (Centro de Controle de Doenças americano) analisa um imenso banco de dados nacional, que recebe notificações tanto de profissionais da saúde quanto de usuários, e classifica efeitos adversos de vacinas em leves e severos, hospitalizações e mortes, entre novembro e dezembro de 2021. Entre 4.249 relatos de crianças entre 5 a 11 anos que receberam a vacina Pfizer, 98% dos efeitos registrados foram leves e, entre os mais sérios, erros de doses administradas, e miocardite com 11 casos sem óbito, em 8 milhões de doses aplicadas.
Conclui esta análise, além de ratificar a vacinação como a melhor arma para prevenir a Covid-19, uma forte recomendação da vacina Pfizer/BioNTech como segura e muito eficaz para essa faixa etária.
Após um período de relativa calmaria propiciado pelas vacinas, sobretudo no Brasil, onde não vingaram os discursos negacionistas e antivacina, e sim a histórica adesão e confiança aos programas de imunização, somos apanhados por essa nova variante tão diversa da cepa original, pelas dezenas de mutações em sua estrutura, que os virologistas já a definem quase como se fora um novo patógeno.
Mas será mesmo a Ômicron tão mais contagiosa do que a Delta, mais patogênica? Ou esse padrão genético tão diferente significaria o estiolamento da pandemia e o começo do fim? Sim, essa hipótese guardaria uma boa plausibilidade biológica, com a prudente distância desta e de uma verdade absoluta. Tudo até o momento nos demonstra que as vacinas dão conta, pelo menos, de atenuar a severidade dos casos, visto que não se observa aumento substantivo de hospitalizações graves. E, assim, o Sars-CoV-2 vai desenhando sua endemicidade e passa a fazer parte do diagnóstico diferencial de doenças virais respiratórias rotineiramente.
Nos Estados Unidos, já vemos com atenção o anúncio do laboratório Moderna, a trabalhar na elaboração de uma nova vacina, visando cobrir as mutações observadas na nova cepa viral. Serão necessários, naturalmente, estudos populacionais de efetividade e segurança da nova formulação. Vemos também, com a nova cepa já dominante há semanas, quadruplicarem os casos, sobretudo entre crianças e profissionais da saúde, levando a desfalques nas equipes de saúde. Esse cenário, aguardamos, com realismo, deve ocorrer no Brasil nessas próximas semanas após as festas de fim de ano. A amostra já nos foi dada nos últimos dois dias, com pessoas que viajaram para lugares como Alter do Chão, no Pará, ou litoral do Ceará, e não podem voltar em avião por estarem sintomáticos e testarem positivos.
Que debate decisivo ainda será necessário para ganhar a consciência crítica de nossa gente, quanto à necessidade de comportamentos pessoais e coletivos protetores? Marguerite Yourcenar, a grande escritora, nos ensina que “o verdadeiro lugar do nascimento é aquele em que, pela primeira vez, se lança um olhar inteligente sobre si mesmo”. Podemos nos inspirar neste começo de ano, com sensibilidade e inteligência.
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