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Cientistas desmentem Bolsonaro: desmatamento recorde aumentou queimadas

Pesquisadores brasileiros e britânicos desconstroem um dos principais argumentos do governo, de que fogo foi causado pela ação de pequenos agricultores


Do 247, 16 de novembro de 2019
Por Cida de Oliveira, RBA 


Cida de Oliveira, RBA - Uma dos argumentos mais usados por Jair Bolsonaro para tentar justificar o aumento das queimadas na Amazônia – de que o fogo tinha origem nas roças de pequenos agricultores – foi desconstruído por pesquisadores de universidades do Brasil e do Reino Unido.


Em carta ao editor da revista científica Global Change Biology, publicado nesta sexta-feira (15), em forma de artigo, os cientistas analisaram essas alegações do governo brasileiro, que considera as queimadas e o desmatamento “dentro de uma situação normal” e “abaixo da média dos últimos anos.” Clique aqui para ler em português.

Para os autores – muitos dos quais preferiram não assinar o artigo científico, num claro sinal de que os tempos são sombrios para a ciência e o conhecimento no Brasil – há fortes evidências de que o aumento no número de queimadas está relacionado à alta nas taxas de desmatamento.

Para investigar tais evidências, eles estimaram a área desmatada em 2019, necessária porque o sistema Prodes, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mede o desmatamento anual entre agosto de um ano a julho do ano seguinte. Assim, os dados referentes a 2019 ainda não foram publicados.

“Nós observamos que a detecção anual do desmatamento pelo Prodes é, em média, 1,54 maior que as taxas de desmatamento medidas em tempo quase-real a partir do sistema DETER-b (um levantamento rápido de alertas de evidências de alteração da cobertura florestal na Amazônia, feito pelo Inpe). O uso desse fator de conversão (1,54) sugere que mais de 10.000 quilômetros quadrados de florestas tenham sido desmatadas entre agosto de 2018 e julho de 2019, o que poderia representar o maior desmatamento anual desde 2008. Essa alta taxa anual reflete o aumento acentuado no desmatamento mensal detectado pelo DETER-b”. “Por exemplo, a área desmatada na Amazônia em julho de 2019 foi quase quatro vezes maior que a média do mesmo período entre 2016 e 2018”, relatam os cientistas.

Segundo eles, o aumento acentuado de incêndios e de desmatamentos em 2019 “refuta, portanto, a consideração de que agosto de 2019 foi um mês ‘normal’ na Amazônia brasileira. Além disso, o aumento de incêndios ocorreu apesar da ausência de uma seca extrema, um fator que geralmente é um forte determinante da ocorrência de incêndios. A alta incidência dos incêndios decorrentes do processo de desmatamento foi consistente com as imagens de queimadas em larga-escala ocorrendo em áreas desmatadas e que foram mostradas na mídia, enquanto que as enormes plumas de fumaça atingindo altos níveis atmosféricos só poderiam ser explicadas pela combustão de grandes quantidades de biomassa vegetal.

A não-normalidade de 2019 também foi enfatizada pela contagem excepcionalmente alta de incêndios em algumas áreas protegidas, como a Floresta Nacional de Jamanxim, onde as queimadas aumentaram em 355% entre 2018 e 2019 — 44% acima da média de longo prazo.”



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