Eis o artigo.
Do IHU, 14 de novembro, 2018
O presidente eleito e a turma do Posto Ipiranga dispararam (dispararam, é bom, né?) ideias a respeito da estratégia a ser adotada nas relações econômicas do Brasil com o resto do mundo. Ainda na campanha eleitoral, o candidato Bolsonaro ejetou projéteis contra a China.
O presidente eleito prometeu barrar as compras de ativos brasileiros pelos chineses – terras, empresas de geração e transmissão de energia e outros badulaques. Em sua prosopopeia peculiar, o novo chefe de Estado baixou o guatambu: “Se deixar, eles vão comprar tudo isso aí”.
Os chineses, sempre maneiros, risonhos e cautelosos soltaram a guasca em editorial do China Daily. Em linguagem dura, o editorial advertiu o Brasil do PSL para os riscos de um confronto com o Império do Meio, a segunda economia do mundo e nosso principal parceiro comercial. Na prática, os chineses disseram aos ipirangolas do posto: não venham com Trumpismo de segunda mão.
Na posteridade do pleito, o Posto Ipiranga e sua turma soltaram bombas de efeito moral contra o Mercosul, apontado, imagino, como um “desvio de comércio” no catecismo das crendices e superstições dos livre-cambistas Chicagões.
Para refrescar a cuca dos encucados de camisa amarela, alguns dados elementares: Em dólares correntes as exportações brasileiras para a China saltaram de 1,5 bilhão de dólares em 2000 para mais de 50 bilhões em 2017. No mesmo período as vendas para os Estados Unidos passaram de 14,6 bilhões para 26,8 bilhões.
Entre janeiro e setembro de 2018 as exportações brasileiras somaram 135,3 bilhões. A China –incluídos Hong Kong e Macau – comprou 49,3 bilhões de produtos brasileiros, enquanto a União Europeia adquiriu 30,2 bilhões, os Estados Unidos 20,5 bilhões.
No campeonato de parceiros, o Mercosul ocupa a quarta posição, com 16,7 bilhões (Argentina 12 bilhões). No período, o Brasil tem superávit com China, Mercosul, modesto superávit com a União Europeia e déficit nas transações com os Estados Unidos. Outro perrengue com consequências comerciais foi detonado com a promessa de mudar a embaixada brasileira de Tel-Aviv para Jerusalém. A Liga Árabemovimentou-se, o Egito cancelou a visita do ministro das Relações Exteriores. Resta saber o que passa na cabeça do empresariado que circula nas cadeias da proteína animal.
Para juntar ofensa à injúria, os falantes e farfalhantes da nova burocracia econômica pregam a abertura unilateral do comércio como forma de promover a integração da indústria nativa às cadeias globais de valor.
O Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI) oferece aos interessados no assunto trabalhos excelentes sobre o desempenho da indústria brasileira nas últimas décadas e não foge do pau ao recomendar políticas para a reconstrução industrial na Era 4.0.
Alguns desses estudos se apoiam nas investigações dos economistas Ricardo Hausmann e Cesar Hidalgo, respectivamente da Universidade Harvard e do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, MIT. Os dois produziram o Atlas da Complexidade.
Escrevem os técnicos do IEDI: “O argumento básico desses autores é que a complexidade das exportações é determinante do crescimento econômico de longo prazo dos países. Isso porque alguns conjuntos de produtos no núcleo do tecido produtivo são mais essenciais para dinamizar outras atividades produtivas, por conta de seus efeitos de encadeamento e transbordamento, sejam de oferta (porque reduzem custos produtivos e geram progresso técnico), sejam de demanda (porque criam e expandem mercados). Assim, de acordo com esta concepção, alguns setores produtivos estabelecem mais conexões com o restante das atividades econômicas.
“Deste grupo fazem parte, principalmente, produtos eletrônicos, máquinas, materiais para construção, químicos e produtos relacionados à saúde. Já petróleo cru, algodão, arroz e soja tendem a ter menor conectividade e complexidade.
“Petróleo refinado, em contrapartida, é um dos produtos mais complexos, o que sinaliza que exportar produtos com base em recursos naturais não significa necessariamente uma baixa capacidade tecnológica. Sua transformação produtiva pode gerar bens de alto valor agregado. A análise da complexidade das exportações(disponível para cada produto individual) pode fornecer subsídios para a elaboração de estratégias industriais, tecnológicas e de comércio exterior com o objetivo de favorecer a penetração de nossas exportações de manufaturados e estimular a integração da indústria brasileira nas cadeias regionais e globais de valor.”
As políticas dos anos 90 compraram a funesta ideia que recomendava expor a economia à concorrência externa, privatizar para lograr ganhos de eficiência micro e macroeconômica. Percorremos o caminho inverso dos asiáticos, que abriram a economia para as importações redutoras de custos e ganhos de eficiência.
Leia mais
A advertência da China e o desconcerto da Argentina ante os sinais de Bolsonaro
'Efeito Bolsonaro" deve influenciar candidatos na América Latina
WWF: Bolsonaro deve cuidar do meio ambiente para economia crescer
CNS repudia projeto de Reforma da Previdência, que pode voltar à pauta no Congresso Nacional em 2018
Primeiro teste de Bolsonaro: quantas mulheres terá seu Governo?
Eleições 2018: Um pleito que revelou muito da sociedade e do Estado. Primeiras análises
O populismo neoliberal venceu. Entrevista especial com Paulo César Carbonari
As rãs pediram um rei
Bolsonaro presidente: Os erros-chave do PT na campanha contra Jair Bolsonaro
Bolsonaro presidente: os obstáculos para concretizar 10 de suas propostas mais polêmicas
Bolsonaro presidente: com vantagem próxima à de Dilma em 2010, eleito não recebe 'cheque em branco', dizem analistas
A esperança fugiu do Brasil. Ficaram só o ódio e o medo
Um Brasil sem lei que Bolsonaro quer radicalizar
Escola de Chicago floresce no autoritarismo
Na construção de uma Frente Ampla Democrática
Haddad, o professor que não conseguiu conter o antipetismo
Bolsonaro abre a era da extrema direita na presidência do Brasil
Brasil mergulha na escuridão
Pela defesa da Democracia e por uma Cultura de Paz
Jair Bolsonaro e a perversão do liberalismo
Tempos sombrios para o meu país. Artigo de Caetano Veloso
“Estejam preparados para viver com as consequências dessa escolha; se o pior acontecer, vocês não vão poder dizer que não sabiam”. Entrevista especial com Rodrigo Nunes
Eleições 2018 e a pauta ambiental. Duas propostas totalmente opostas em disputa no 2º turno. Entrevista especial com Lucas Ferrante
“Estamos vivendo o capítulo brasileiro da falência global da democracia liberal”. Entrevista especial com Luis Felipe Miguel
O ódio saiu do armário. Entrevista especial com Adriano Pilatti
É urgente radicalizar o experimento democrático, pois "mesmo que você se apoie em baionetas, você não pode se assentar nelas". Entrevista especial com José Geraldo de Sousa Junior
Depois do “teatro de sombras”, Brasil precisará se reinventar e sair do caminho da prancheta. Entrevista especial com Luiz Werneck Vianna
Do lulismo ao bolsonarismo. Entrevista especial com Rosana Pinheiro-Machado
Austeridade, um fermento que faz crescer a crise. Entrevista especial com Fernando Maccari Lara
Bolsonaro é uma ameaça ao planeta
Carta aos eleitores de Bolsonaro
Apoiadores de Bolsonaro realizaram pelo menos 50 ataques em todo o país
Bolsonaro não controla mais o bolsonarismo
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O presidente eleito prometeu barrar as compras de ativos brasileiros pelos chineses – terras, empresas de geração e transmissão de energia e outros badulaques. Em sua prosopopeia peculiar, o novo chefe de Estado baixou o guatambu: “Se deixar, eles vão comprar tudo isso aí”.
Os chineses, sempre maneiros, risonhos e cautelosos soltaram a guasca em editorial do China Daily. Em linguagem dura, o editorial advertiu o Brasil do PSL para os riscos de um confronto com o Império do Meio, a segunda economia do mundo e nosso principal parceiro comercial. Na prática, os chineses disseram aos ipirangolas do posto: não venham com Trumpismo de segunda mão.
Na posteridade do pleito, o Posto Ipiranga e sua turma soltaram bombas de efeito moral contra o Mercosul, apontado, imagino, como um “desvio de comércio” no catecismo das crendices e superstições dos livre-cambistas Chicagões.
Para refrescar a cuca dos encucados de camisa amarela, alguns dados elementares: Em dólares correntes as exportações brasileiras para a China saltaram de 1,5 bilhão de dólares em 2000 para mais de 50 bilhões em 2017. No mesmo período as vendas para os Estados Unidos passaram de 14,6 bilhões para 26,8 bilhões.
Entre janeiro e setembro de 2018 as exportações brasileiras somaram 135,3 bilhões. A China –incluídos Hong Kong e Macau – comprou 49,3 bilhões de produtos brasileiros, enquanto a União Europeia adquiriu 30,2 bilhões, os Estados Unidos 20,5 bilhões.
No campeonato de parceiros, o Mercosul ocupa a quarta posição, com 16,7 bilhões (Argentina 12 bilhões). No período, o Brasil tem superávit com China, Mercosul, modesto superávit com a União Europeia e déficit nas transações com os Estados Unidos. Outro perrengue com consequências comerciais foi detonado com a promessa de mudar a embaixada brasileira de Tel-Aviv para Jerusalém. A Liga Árabemovimentou-se, o Egito cancelou a visita do ministro das Relações Exteriores. Resta saber o que passa na cabeça do empresariado que circula nas cadeias da proteína animal.
Para juntar ofensa à injúria, os falantes e farfalhantes da nova burocracia econômica pregam a abertura unilateral do comércio como forma de promover a integração da indústria nativa às cadeias globais de valor.
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“Deste grupo fazem parte, principalmente, produtos eletrônicos, máquinas, materiais para construção, químicos e produtos relacionados à saúde. Já petróleo cru, algodão, arroz e soja tendem a ter menor conectividade e complexidade.
“Petróleo refinado, em contrapartida, é um dos produtos mais complexos, o que sinaliza que exportar produtos com base em recursos naturais não significa necessariamente uma baixa capacidade tecnológica. Sua transformação produtiva pode gerar bens de alto valor agregado. A análise da complexidade das exportações(disponível para cada produto individual) pode fornecer subsídios para a elaboração de estratégias industriais, tecnológicas e de comércio exterior com o objetivo de favorecer a penetração de nossas exportações de manufaturados e estimular a integração da indústria brasileira nas cadeias regionais e globais de valor.”
As políticas dos anos 90 compraram a funesta ideia que recomendava expor a economia à concorrência externa, privatizar para lograr ganhos de eficiência micro e macroeconômica. Percorremos o caminho inverso dos asiáticos, que abriram a economia para as importações redutoras de custos e ganhos de eficiência.
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Tempos sombrios para o meu país. Artigo de Caetano Veloso
“Estejam preparados para viver com as consequências dessa escolha; se o pior acontecer, vocês não vão poder dizer que não sabiam”. Entrevista especial com Rodrigo Nunes
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“Estamos vivendo o capítulo brasileiro da falência global da democracia liberal”. Entrevista especial com Luis Felipe Miguel
O ódio saiu do armário. Entrevista especial com Adriano Pilatti
É urgente radicalizar o experimento democrático, pois "mesmo que você se apoie em baionetas, você não pode se assentar nelas". Entrevista especial com José Geraldo de Sousa Junior
Depois do “teatro de sombras”, Brasil precisará se reinventar e sair do caminho da prancheta. Entrevista especial com Luiz Werneck Vianna
Do lulismo ao bolsonarismo. Entrevista especial com Rosana Pinheiro-Machado
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