Gert-Peter Bruch, fundador da ONG Planète Amazone, se diz chocado com as declarações de Jair Bolsonaro
Do IHU, 09 de novembro, 2018
A reportagem é de Radio France Internationale, reproduzida por Carta Capital, 08-11-2018.
O presidente eleito do Brasil, Jair Bolsonaro, afirmou nesta semana que seu governo se oporá a novas demarcações de terras indígenas. Em entrevista, Bolsonaro falou que os índios devem se moldar à sociedade. Ele também comparou a permanência dos índios em terras demarcadas a animais em um zoológico e disse que os indígenas não precisam disso. Uma indígena, um historiador e um ambientalista comentam as declarações.
Segundo Daiara Figueroa, indígena da etnia Tukano, mestranda em Direitos Humanos na UnB e coordenadora da Rádio Yandê, a primeira rádio web feita 100% por indígenas do Brasil, esse discurso não é novo:
“Este discurso é o que a gente reconhece como um discurso integracionista, profundamente racista. Ele demonstra um profundo desconhecimento da realidade dos povos indígenas, que já estão, sim, muito bem integrados às tecnologias, com acesso à saúde, educação, comunicação e outros. O que nos faltam são mais recursos financeiros para isso, ninguém está nadando na riqueza, porém nós demonstramos já ampla capacidade de diálogo com as tecnologias e as práticas da sociedade Ocidental”, reage.
“Esta visão integracionista é também um fato histórico de todo o processo colonial do Brasil. Repetidas vezes, o Estado brasileiro, desde a colônia, tem procurado construir discursos de que a integração do índio levaria à sua total desaparição. Estas pessoas são tão racistas que elas não compreendem que os indígenas estão na contemporaneidade, que a diversidade cultural, a diversidade de pensamento, que a diversidade de ciências, podem, sim, coexistir, inclusive no mesmo território nacional”, afirma.
Apesar de não serem novidade, Daiara diz que o maior medo em relação a esse novo governo é que ele concretize essas declarações.
“Pela primeira vez, no Brasil, a população está com medo de que o presidente cumpra as suas promessas de campanha, uma vez que estas promessas, com relação às populações indígenas, à Amazônia e, principalmente esta visão de fazer tudo pelo agronegócio, inclusive de colocar a vida de milhares de pessoas e de outros seres vivos em risco, são muito negativas”, diz.
“Nós, os povos indígenas, estamos nesta situação de sobrevivência, de resistência, de temperança há mais de 500 anos, e continuaremos construindo esta resistência e também construindo os diálogos necessários para poder garantir a nossa continuidade”, completa.
Para o historiador Antoine Acker, professor da Universidade de Zurique, na Suíça, e autor do livro “Volkswagen na Amazônia – A tragédia do desenvolvimento global no Brasil moderno”, Bolsonaro deve afrouxar a aplicação das leis ambientais, prejudicando, assim, os índios e as florestas.
“A constituição brasileira obriga os legisladores a protegerem a natureza. Isso é uma obrigação. Portanto é muito difícil destruir a legislação ambiental que já existe, ate porque uma parte dele foi construída e iniciada durante a ditadura. Existe uma parte do exército que é contra o enfraquecimento da legislação ambiental. Mas o que Bolsonaro quer fazer, a meu ver, é criar um clima de afrouxamento da estrutura que permite a aplicação desta legislação ambiental”, analisa.
Para Acker, querer que essas populações se submetam ao modo de vida do resto das cidades, é uma forma de neocolonialismo.
“Em primeiro lugar eu vejo isso como uma visão racista, uma visão colonial na qual osíndios têm que ser submetidos à visão dos brancos, à visão da população que o Bolsonaro chama de civilizada. A demarcação de terras indígenas, não é uma gaiola, não é uma área zoológica, é uma vitória dos povos indígenas, que foi conquistada depois de muita luta por parte deles, e uma garantia de proteção de suas terras; se esta garantia não existir mais, vai ser muito difícil para as populações indígenas se perpetuarem no Brasil”, lamenta o historiador.
De acordo com Gert-Peter Bruch, fundador da ONG Planète Amazone e realizador do filme “Terra Libre”, sobre terras indígenas, se o novo governo parar a demarcação, será uma catástrofe:
“A consequência será catastrófica. A gente sabe muito bem que a Constituição de 1988 implica que todas as terras indígenas deveriam ser demarcadas em cinco anos. Trinta anos se passaram e nem todas as terras foram demarcadas, então quer dizer que é um direito constitucional que é violado pelo novo presidente da República. Então as consequências, no que se deve à democracia, são muito negativas. No nível do respeito ao meio ambiente e à proteção do clima, é dramático. Nós temos um presidente que é negacionista, a gente não pode dizer de outra forma”, aponta.
“Todos os especialistas dizem isso, e eu posso citar um especialista brasileiro, Antonio Donato Nobre, climatologista extremamente reputado no mundo inteiro, que alerta o mundo que nós já passamos do ponto de não-retorno do desmatamento da Amazônia, e nós sabemos muito bem que os indígenas são os que a protegem melhor do desmatamento e que a floresta é indispensável à proteção do clima. Então é uma catástrofe, evidentemente, é o que poderia acontecer de pior; este tipo de política é aterrorizante. É um genocídio de gerações futuras que está em curso, além do genocídio dos povos indígenas; um etnocídio, neste caso”, analisa.
“Eu acabo de ler as últimas declarações de Bolsonaro, que pretende impor seu modo de vida aos indígenas, que afirma, como presidente, a sua vontade de destruir completamente o modo de vida dos indígenas e moldá-los à sociedade branca. Isso é um etnocídio, portanto um crime. O cúmulo é ele comparar os indígenas aos animais, dizendo que eles estão como num zoológico; eu chamo isso de um escândalo sem nome. Eu estou extremamente chocado com as declarações do presidente eleito do Brasil”, declara.
Bruch conta que não é o único a se chocar: “Há um ‘eletrochoque’ aqui na França depois da eleição de Bolsonaro. As pessoas nos contatam todos os dias, preocupadas, perguntando o que elas podem fazer para ajudar”.
Como resposta, ele recomenda “muita mobilização em escala internacional”, mas já prevê retaliações: “Estou certo de que Bolsonaro fará uma propaganda, no sentido de dizer ‘olha aí, as ONGs estrangeiras querem nos invadir, se apropriar da Amazônia’. A gente não quer se apropriar da Amazônia nem do Brasil, mas a gente se preocupa com o futuro de nossas crianças. É muito inquietante”, conclui.
Segundo a Funai, existem hoje 11,3 milhões de hectares de terras em estudo para a demarcação, abrigando 120 mil indígenas.
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Este grupo se insere numa das linhas de pesquisa do LABMUNDO-BA/NPGA/EA/UFBA, Laboratório de Análise Política Mundial, Bahia, do Núcleo de Pós-graduação da Escola de Administração da UFBA. O grupo é formado por pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento e de diferentes instituições públicas de ensino e pesquisa.
Buscamos nos apropriar do conhecimento das inter-relações das dinâmicas socioespaciais (políticas, econômicas, culturais) dos países da América do Sul, especialmente do Brasil, da Bolívia, da Argentina e do Chile, privilegiando a análise histórica, que nos permite captar as especificidades do chamado “subdesenvolvimento”, expressas, claramente, na organização das economias dos diversos povos, nos grupos sociais, no espaço.
Nosso campo de investigação dialoga com os campos da Geopolítica, Geografia Crítica, da Economia Política e da Ecologia Política. Pretendemos compreender as novas cartografias que vêm se desenhando na América do Sul nos dois circuitos da economia postulados por Milton Santos, o circuito inferior e o circuito superior. Construiremos, desse modo, algumas cartografias de ação, inspirados na proposta da socióloga Ana Clara Torres Ribeiro, especialmente dos diversos movimentos sociopolíticos dessa região, das últimas décadas do século XX à contemporaneidade.
Interessa-nos, sobretudo, a compreensão e a visibilidade das diferentes reações e movimentos dos países do Sul à dinâmica hegemônica global, os espaços de cooperação e integração criados, as potencialidades de criação de novos espaços e os seus significados para o fortalecimento da integração e da cooperação entre os países do Sul, do ponto de vista de outros paradigmas de civilização, a partir de uma epistemologia do sul. Através das cartografias de ação, buscamos perceber as antigas e novas formas de organização social e política, bem como os espaços de cooperação SUL-SUL aí gestados. Consideramos a integração e a cooperação Sul-Sul como espaços potenciais da construção de novos caminhos de civilização que superem a violência do desenvolvimento da forma em que ele é postulado e praticado.
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