Do IHU, 17 Novembro 2018
Por Enrique Dussel Peters
A ascensão chinesa é o grande processo de mudança do sistema internacional no século XXI. Os investimentos chineses em todo o globo impactam diretamente questões ambientais, culturais e econômicas. A Organização Internacional do Trabalho — OIT publicou nesse mês o primeiro relatório que apresenta a quantidade e qualidade de empregos gerados pelos investimentos chineses na América Latina. O levantamento feito sob coordenação de Enrique Dussel Peters apresenta que o investimento maciço nesse século impactou o mundo do trabalho na região gerando 2 milhões de empregos pelo comércio, investimentos diretos e projetos de infraestrutura.
O decênio de 2003-2013 foi de alto crescimento econômico e social na América Latina. A alta dos preços das commodities e o crescimento da demanda externa impulsionada pela China alterou o panorama socioeconômico da região. O relatório da OIT apresenta pela primeira vez uma análise que buscar captar o impacto dos negócios chineses para a geração de emprego na América Latina. Dando ênfase a Brasil, Chile, México e Peru, a pesquisa aponta disparidade na quantidade e características dos empregos nesses países.
De acordo com a OIT, a América Latina possui, hoje, uma força de trabalho 260 milhões de pessoas e a maior taxa de desemprego dos últimos dez anos, 8,7%. Entre os empregados, a taxa de informalidade é de 47%. Entre os jovens, a “geração nem-nem”, que não estuda e não trabalha, já atinge 20% da população. O crescimento da China na região acontece nesse panorama que traz consigo significativas transformações nas formas de trabalho e contratação, em relação à tecnologia e terceirização.
De acordo com Dussel Peters, o impacto chinês nesse contexto é maior no comércio líquido. Entre o período de 1995-2011, 2,15% dos empregos da região foram gerados pelos investimentos chineses. Entretanto há uma disparidade expressiva entre os dois maiores países. Enquanto no Brasil causou a criação de 1,35 milhões de empregos, no México as relações significaram uma perda de 513 mil empregos. As áreas mais favorecidas são a agricultura, o comércio e a mineração; enquanto a indústria da computação e têxtil foram as mais prejudicadas.
A relação entre o comércio exportador e importador da América Latina com aChina chegou a uma soma aproximada de 1,359 milhões de empregos. O relatório aponta que o aumento das exportações gerou 2,239 milhões de empregos, enquanto o crescimento das importações acarretou em uma perda de aproximadamente 700 mil empregos.
A pesquisa destaca que os empregos gerados pela exportação são em sua maioria de baixa qualificação.
Embora haja uma expressão relevante para a América Latina, o comércio com a China nesse período significou 14,2% dos empregos gerados pelos Estados Unidos na região.
Outra variável de impacto analisada é o investimento externo direto. As 328 transações que empresas chinesas efetuaram na América Latina no período de 2000-2017 movimentaram um fluxo de 109,1 bilhões de dólares. O resultado para o mundo do trabalho foi uma geração de 294,3 mil empregos, o que Dussel Peters calcula um investimento de 370,4 mil dólares por vaga de emprego gerada.
Apesar dos números expressivos, a pesquisa apresenta uma diminuição do coeficiente entre investimento e empregos nos últimos anos. Enquanto a entrada de capital chinês caiu 26,9%, o emprego aumentou 43,7%, em 2017. Brasil, Argentina e Peru foram os países que mais receberam investimento, 72,61% do aplicado na região, que representaram 62,47% dos empregos gerados na região.
O caso mexicano novamente é o mais diferente. O investimento chinês recebido foi de 21,79% e a geração de emprego de 25,43%.
Os principais investimentos chineses na região partem de empresas estatais. No período analisado de 2000-2017, representaram 74,59% dos dólares investidos, e responsáveis por 52,56% dos empregos criados por investimento direto chinês.
Por fim, o relatório apresenta o impacto dos 69 projetos de infraestruturaimpulsionados pela China na região. O montante acumulado é de 56,1 bilhões de dólares, e a criação de mais de 400 mil empregos, no período de 2000-2017. Somente na Venezuela foram criados mais de 148 mil empregos, em 12 projetos que movimentam mais de 10 bilhões de dólares. Na sequência, aparece o Brasil com 72 mil empregos gerados, e um montante de 5 bilhões de dólares.
O relatório destaca as características dos empregos que são diferenciados em cada país, entretanto demonstra um conhecimento dos investidores chineses nas especificidades das legislações trabalhistas. Uma característica comum é que os cargos de maiores salários são preenchidos por trabalhadores chineses, entretanto o salário dos empregados latino-americanos geralmente segue a tendência da faixa salarial do mercado, e em muitas situações é ainda superior à média.
Nos países analisados, a pesquisa destaca que há desconhecimento cultural e das realidades locais por parte das empresas chinesas. Indica também que poucas empresas possuem trabalhadores sindicalizados, e em países como Peru e Chile, a taxa de terceirização supera os 50%.
Grupo de Pesquisa Sul-Sur
Este grupo se insere numa das linhas de pesquisa do LABMUNDO-BA/NPGA/EA/UFBA, Laboratório de Análise Política Mundial, Bahia, do Núcleo de Pós-graduação da Escola de Administração da UFBA. O grupo é formado por pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento e de diferentes instituições públicas de ensino e pesquisa.
Buscamos nos apropriar do conhecimento das inter-relações das dinâmicas socioespaciais (políticas, econômicas, culturais) dos países da América do Sul, especialmente do Brasil, da Bolívia, da Argentina e do Chile, privilegiando a análise histórica, que nos permite captar as especificidades do chamado “subdesenvolvimento”, expressas, claramente, na organização das economias dos diversos povos, nos grupos sociais, no espaço.
Nosso campo de investigação dialoga com os campos da Geopolítica, Geografia Crítica, da Economia Política e da Ecologia Política. Pretendemos compreender as novas cartografias que vêm se desenhando na América do Sul nos dois circuitos da economia postulados por Milton Santos, o circuito inferior e o circuito superior. Construiremos, desse modo, algumas cartografias de ação, inspirados na proposta da socióloga Ana Clara Torres Ribeiro, especialmente dos diversos movimentos sociopolíticos dessa região, das últimas décadas do século XX à contemporaneidade.
Interessa-nos, sobretudo, a compreensão e a visibilidade das diferentes reações e movimentos dos países do Sul à dinâmica hegemônica global, os espaços de cooperação e integração criados, as potencialidades de criação de novos espaços e os seus significados para o fortalecimento da integração e da cooperação entre os países do Sul, do ponto de vista de outros paradigmas de civilização, a partir de uma epistemologia do sul. Através das cartografias de ação, buscamos perceber as antigas e novas formas de organização social e política, bem como os espaços de cooperação SUL-SUL aí gestados. Consideramos a integração e a cooperação Sul-Sul como espaços potenciais da construção de novos caminhos de civilização que superem a violência do desenvolvimento da forma em que ele é postulado e praticado.
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