Do Opera Mindi, 8 de out de 2018
O resultado das eleições presidenciais realizadas neste domingo (07/10) foi destaque nos principais veículos de comunicação do mundo. O jornal alemão Süddeutsche, de Munique, afirmou que a ascensão de Jair Bolsonaro (PSL), que irá disputar o segundo turno contra Fernando Haddad (PT), é um "sinal de alerta para o mundo inteiro".
"Que muitos cidadãos queiram tornar alguém como ele chefe de Estado, , de livre e espontânea vontade, mostra até que ponto chegou a democracia brasileira. A ascensão de um homem que arremete contra minorias, que aponta a ditadura militar como um modelo e que há um ano era considerado sem chances, é um sinal de alerta - não só para a democracia no Brasil, mas também para o mundo inteiro. A ânsia por slogans fáceis, radicalidade e promessas insustentáveis de salvação parece cooptar cada vez mais pessoas. Apesar disso, é insuficiente creditar o sucesso de Bolsonaro somente pela tendência mundial ao populismo de direita. O Brasil tem suas próprias preocupações específicas. Assim como todas os países emergentes da América Latina, ele é dependente da exportação de commodities e, no momento em que os preços caem, o país cai em crise", diz o artigo.
O argentino Página/12 traz como título principal de seu site a manchete "Bolsonaro a um passo" e lembra que o candidato de ultradireita obteve larga vantagem sobre o ex-prefeito de São Paulo no primeiro turno. Bolsonaro alcançou 46% dos votos válidos, enquanto Haddad obteve 29%. Ao mesmo tempo, aponta que o candidato do PSL é mais semelhante ao presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, que ao dos EUA, Donald Trump.
"Ao capital reformado, agrada que o comparem a Donald Trump, mas essa analogia é imperfeita: sua biografia e gosto por sangue o assemelham ao presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, uma referência em matéria de execuções extrajudiciais. Duterte é um tirano eleito, como poderá ser Bolsonaro no segundo turno do dia 28 de outubro", diz.
O periódico ainda classificou a votação como "a mais tumultuada e imprevisível eleição brasileira" e ressaltou o perfil do candidato do PSL, "com sua defesa da tortura e da ditadura militar" e com suas "posições misóginas, machistas, homofóbicas e racistas".
Autoritarismo político
Por sua vez, o jornal português Público diz, em artigo, que, com o resultado, se anuncia o colapso do sistema partidário brasileiro. O periódico também destaca a grande quantidade de deputados federais da legenda de Bolsonaro que foram eleitos e menciona os episódios "de eleitores que apertaram botões das urnas eletrônicas com revólveres, numa alusão à liberalização do porte de armas de fogo prometido por Jair Bolsonaro – e violando a lei, que não permite sequer levar telefone celular para a cabine de voto".
"Jair Bolsonaro encarna o autoritarismo político. Mas pode vir a ser um Presidente débil, sob a tutela do Poder Judicial e das Forças Armadas", afirma o periódico. "Os golpes estão fora de moda. Há formas mais “institucionais” de autoritarismo e controle social."
O espanhol El País descreve Bolsonaro como "um político autoritário, racista, machista, homofóbico, um adorador da ditadura e defensor dos valores mais retrógrados". Segundo o jornal, o Brasil "encara agora três semanas decisivas" de polarização.
Para o jornal, há uma espécie de blindagem de Bolsonaro, dado que os ataques a sua candidatura não impediram que ele terminasse o primeiro turno na frente. "O desinteresse brasileiro pela democracia, um sentimento que se acreditava ser inexistente até que Bolsonaro chegou, parece protegê-lo de qualquer ataque. E, dessa vez, o antipetismo, um sentimento que se sabia grande, mas não o quanto, o torna um combustível inextinguível", diz o periódico.
Já para o britânico The Guardian, Haddad "tem uma montanha quase tão alta quanto Pico da Neblina para subir se quiser afundar a impressionante ascensão do populista de direita". Analistas ouvidos pelo jornal dizem que é "essencial" que se forme uma "frente antifascista" caso se queira parar Bolsonaro.
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