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As nações recuam em suas promessas de proteção climática


Os governos não estão mantendo suas promessas de financiar a proteção climática e todos sofreremos por causa disso. O problema é causado pela falta de uma "liderança forte," disse o secretário-geral da ONU Antonio Guterres



Da Carta Maior, 01 de Outubro, 2018
Por Deutsche Welle


Para combater os piores efeitos da mudança climática vai ser necessário o dinheiro que os países se comprometeram a gastar mas não gastaram, disse o presidente francês Emmanuel Macron em 26 de setembro, apelando para que os líderes mundiais reunidos em Nova York aumentem significativamente o financiamento para ações climáticas.

Discursando na segunda Conferência Planeta Único — lançada pelo presidente francês no ano passado para acelerar a implementação do acordo climático de Paris de 2015 — Macron disse que os líderes tinham que se responsabilizar por ações relacionadas à mudança climática.
"Portanto, governos, o Banco Mundial, todos os bancos de desenvolvimento, líderes de negócios e investidores, esse trabalho é nosso. Todos estão esperando por nós e todos hoje em dia querem que aceleremos", disse Macron.

"Temos que alocar um terço do financiamento global para o financiamento da luta contra a mudança climática e de novas ações climáticas", adicionou ele.

Emmanuel Macron@EmmanuelMacron

Hoje aceitamos compromissos ambiciosos e sem precedentes em relação à mudança climática. Agora, temos que cumpri-los. E temos que fazer isso acontecer já. O Laboratório #OnePlanetSummit estará no cerne do G7. http://www.oneplanetsummit.fr/en

7:26 PM - 26 de setembro de 2018 · Nova York, NY

"Negociações recentes em Bangkok referentes às regras de implementação do Acordo de Paris levaram a algum progresso, mas não o suficiente", disse em 24 de setembro Patricia Espinosa, secretária-executiva de Mudança Climática da ONU. "As nações não estão cumprindo com o que prometeram."

'Ainda falta-nos uma liderança forte'

Cerca de 30 presidentes, primeiros-ministros e ministros participaram da conferência, que coincide com a 73º sessão da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, incluindo representantes da Espanha, Dinamarca, Noruega, China, assim como de pequenas nações do Pacífico que particularmente sentem os impactos do aumento dos níveis dos oceanos.

Discursando na reunião da Assembleia Geral da ONU, o secretário-geral da ONU Antonio Guterres ecoou as preocupações de Macron em relação à mudança climática e disse que a menos que as atuais tendências de emissão de gases estufa sejam revertidas até 2020, será impossível manter o aquecimento global abaixo de 1,5º C.

Essa meta foi estabelecida no Acordo de Paris de 2015, mas segundo a ONU, os compromissos que os governos estabeleceram até agora só alcançaram um terço dos cortes de emissão necessários.

"Por que a mudança climática é mais rápida do que nós?", perguntou Guterres. "A única resposta possível é que ainda não temos uma liderança forte para tomar as decisões ousadas necessárias para colocar nossas economias e sociedades no caminho para um crescimento com baixa emissão de carbono e com resiliência climática."

O líder da ONU pressionou os governos para acabarem com os subsídios de combustíveis fósseis, ajudarem com os avanços das energias renováveis e apoiarem um preço por emissões de carbono que reflita seu real custo. Desastres relacionados ao clima custaram cerca de 320 bilhões de dólares (273 bilhões de euros) ao mundo no ano passado, disse Guterres, um montante que provavelmente aumentará com o aquecimento do mundo.

Passos positivos

Entretanto, apesar de que poucos líderes compareceram à conferência de 2018 quando se compara com o ano passado, alguns setores econômicos e governos usaram a conferência para anunciar iniciativas para batalhar contra a mudança climática.

BlackRock, o maior gestor de ativos do mundo, disse que ajudaria a estruturar um fundo climático para investimento em setores verdes como a energia renovável e o transporte com baixa emissão de carbono na América Latina, Ásia e África.

Os governos francês e alemão e grandes organizações filantrópicas, incluindo a Fundação Hewlett, comprometeram-se a fornecer fundos iniciais para a Parceria de Financiamento Climático, que os organizadores disseram que estará estabelecida no ano que vem.

O Banco Mundial, que empresta dinheiro para países em desenvolvimento, anunciou uma plataforma para fornecer 1 bilhão de dólares para o desenvolvimento de tecnologia de armazenamento de energia com baterias.

A Google anunciou o lançamento de uma ferramenta para gerar dados de emissão de gases estufa a partir do tráfego em estradas e da capacidade solar de cidades, que captura através de seu serviço de mapeamento Google Earth.

Ações climáticas fraquejam

Apesar de vários anúncios e conferências — incluindo em Bonn em maio, e em Bangkok e São Francisco em setembro — ações referentes aos assuntos da mudança climática estão enfrentando alguns obstáculos.

Em junho de 2017, o presidente dos EUA Donald Trump anunciou que os Estados Unidos iriam sair do Acordo de Paris que entra em vigor em novembro de 2020, e outros países também colocaram a mudança climática em segundo plano.

Trump abandonou as metas de emissão de gases estufa estabelecidas por seu predecessor, Barack Obama, ao acabar com dezenas de regulações ambientais, enquanto que a Austrália, um dos maiores poluidores de gases estufa per capita do mundo, abandonou planos de criar uma limitação legal de emissão de gases estufa.

No Brasil, o candidato a presidente de direita que está em primeiro lugar nas pesquisas, Jair Bolsonaro, disse que também tiraria o país do Acordo de Paris se eleito.

O Acordo de Paris também requer que os países ricos estabeleçam um fundo anual de 100 bilhões de dólares para ajudar nações em desenvolvimento a lutar contra a mudança climática, mas até o momento somente 10 bilhões de dólares foram arrecadados. O EUA sozinho tinham prometido 3 bilhões de dólares e somente contribuíram com 1 bilhão sob o governo Obama.

A próxima conferência de negociação da ONU, a COP24, ocorrerá em dezembro na Polônia, mas as reuniões preparatórias acabaram em impasses.

*Publicado originalmente em dw.com | Tradução: equipe Carta Maior

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