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Sírios em áreas controladas pelo governo votam nas primeiras eleições locais desde 2011

Créditos da foto: A última vez que a Síria teve eleições locais foi em dezembro de 2011, somente nove meses depois do início do conflito (Bassem Tellawi/AP)

Mais de cinco milhões de refugiados e seis milhões de migrantes internos não podem colocar seu voto na urna


Da Carta Maior, 18 de Setembro, 2018
Por Al Jazeera



Os sírios em áreas controladas pelo governo colocaram seus votos nas urnas nas primeiras eleições locais desde que os protestos contra o governo em 2011 tornaram-se uma guerra entre rebeldes, tropas do governo e apoiadores externos.

Os locais de votação abriram às 7h da manhã em hora local no domingo, dia 16 de setembro, em todas as partes do país controladas pelo governo onde mais de 40.000 candidatos competiram por 18.478 cargos em conselhos administrativos locais.

Domingo é um dia útil normal na Síria, mas a votação foi prolongada em cinco horas até a meia-noite por causa da “alta participação”, disse a agência de notícias do governo SANA, sem dar os números de participação.

A votação foi similarmente prolongada em 2014 quando o presidente Bashar al-Assad venceu por uma grande margem com 88,7% dos votos, renovando seu domínio por outros sete anos.

Os EUA, a UE e o Conselho de Cooperação do Golfo consideraram a eleição ilegítima.

O canal de televisão estatal sírio transmitiu imagens de votantes em Damasco e nos bastiões costais do governo de Tartus e Latakia.

A gravação mostrava votantes colocando suas cédulas de votos em caixas plásticas enquanto autoridades eleitorais supervisionavam.

O canal também mostrou imagens da votação em Deir Az Zor, uma cidade oriental recapturada completamente no ano passado por tropas sírias depois de intensas batalhas contra o grupo Estado Islâmico do Iraque e do Levante (ISIL, também conhecido como ISIS).

Não ocorreu votação em áreas fora do controle do governo, incluindo as partes controladas por curdos no nordeste e o maior pedaço de território mantido por rebeldes, a província Idlib no noroeste, lar de cerca de três milhões de pessoas.

De acordo com a agência de notícias AFP, parece que menos pessoas estavam indo votar do que em eleições presidenciais e parlamentares anteriores.

Mohammad Kabbadi, um empregado do governo de 42 anos, vota no distrito de Bab Sharqi da capital em um candidato de seu bairro.

“Sei exatamente em quem vou votar — ele é jovem, ativo e sua vitória trará boas coisas para os residentes desta área”, disse Kabbadi.

“Por que votar?”

A vasta maioria dos candidatos são membros do partido Baath que governa o país ou são ligados a ele, o que dissuadiu algumas pessoas de votar.

“Por que votar? Algo vai mudar? Sejamos honestos”, disse Humman, de 38 anos e trabalhador do distrito Mazzeh da capital que optou por ficar em casa no domingo.

“Todos sabemos que os resultados são decididos antecipadamente por um único partido, cujos membros ganharão em um processo que é mais parecido com uma nomeação do que com uma eleição.”

Mazen Gharibah, pesquisador da Faculdade de Economia de Londres, disse que o governo sírio procurava usar essa eleição para mandar a mensagem de que o país estava no caminho “para a restauração”.

“Esta eleição é parte integral da propaganda do governo sírio, que está caminhando rumo à restauração, que a comunidade está se recuperando, que o governo sediado em Damasco ainda é um governo que funciona e que está caminhando em direção a uma situação melhor.”

“O segundo motivo pelo qual estão realizando esta eleição é logístico. Depois de vastos ganhos militares e da movimentação de forças nas províncias orientais de Ghouta, Aleppo, Deraa, Homs, etc., o regime está tentando aumentar sua presença nessas áreas e nomear membros de conselhos locais.”

Migrantes internos e refugiados não podem votar

O número de assentos nas eleições deste ano aumentou um pouco em relação aos cerca de 17.000 cargos disponíveis nas eleições passadas, já que vilas menores foram promovidas a municipalidades.

Membros de conselho têm mandatos de quatro anos no nível municipal e são em grande parte responsáveis pela provisão de serviços e outros assuntos administrativos.

Espera-se que os eleitos nesta votação tenham mais responsabilidades que seus predecessores, particularmente ligadas à reconstrução e ao desenvolvimento urbano.

Entretanto, Gharibah disse que com a lei que proíbe que sírios migrantes internos e refugiados votem, a participação provavelmente será baixa.

“A lei de eleição geral da Síria, que é conhecida como lei número cinco de 2014, diz que o direito de votar em eleições locais só pode ser exercido no local onde se nasceu ou no local no qual se possui o registro civil.

“Portanto, se você é de Aleppo e tem morado em Damasco nos últimos 30 anos, você não pode votar para a municipalidade de Damasco, você tem que fisicamente votar em Aleppo para que possa participar dessas eleições.

“Com mais de seis milhões de migrantes internos, eles não terão o direito de votar a menos que possam fisicamente colocar seus votos na urna em suas áreas, e isso não é possível para muitas áreas.

“E com a lei também proibindo o voto à distância e por procuração, refugiados — pessoas vivendo fora das fronteiras da Síria — também não podem votar.”

A última vez que a Síria teve eleições locais foi em dezembro de 2011, somente nove meses após o início de uma guerra de sete anos que, de acordo com os dados do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, causou a morte de cerca de 500.000 e o deslocamento de mais de 11 milhões de pessoas. As últimas eleições parlamentares ocorreram em 2016.

*Publicado originalmente em aljazeera.com | Tradução: equipe Carta Maior

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