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Desmatamento, agricultura e pecuária modificam composição química no solo da Amazônia

A forma como é preparado o solo tem ligação direta com as respostas das comunidades microbianas na região amazônica, atesta pesquisa realizada pelo Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena) da USP, em Piracicaba. 

Do IHU, 28 de Setembro, 2016
Por Júlio Bernardes, publicada por Agência USP.


O estudo do biólogo Lucas William Mendes demonstra que a substituição da floresta nativa por áreas deagricultura e pecuária tem modificado a composição química do solo e levado os micro-organismos a se adaptarem para sobreviver e manter o equilíbrio do ecossistema. O conhecimento dessas adaptações pode ajudar a encontrar maneiras sustentáveis de melhorar a fertilidade do solo.

Para a pesquisa foram coletadas amostras de solo em áreas de floresta nativa, área desmatada, agricultura (plantio de soja) e pastagem. “As coletas foram realizadas na região Centro-Oeste do Brasil, no Estado do Mato Grosso, numa região conhecida como ‘arco do desmatamento’, devido ao intenso processo de conversão da floresta em agricultura”, conta o pesquisador. “Foram realizadas quatro coletas durante o período de 2009 a 2011, compreendendo o período de chuva e seca da região.”

O estudo avaliou o efeito das mudanças do uso do solo, ou seja, a conversão de áreas de floresta em agricultura e pastagem, sob as comunidades de micro-organismos. “Como as comunidades microbianas têm papel fundamental na manutenção da qualidade do solo, é de suma importância entender sua resposta aos distúrbios da paisagem ocasionados pelo crescimento da agricultura na região amazônica”, afirma Mendes.

Para a análise da diversidade microbiana foi feito o sequenciamento massivo (metagenômica) a partir de DNA extraído das amostras do solo. “As comunidades microbianas estão envolvidas em processos biogeoquímicos, ciclagem de nutrientes e até mesmo emissão de gases do efeito estufa, tendo um papel considerável na manutenção da qualidade do solo”, aponta o pesquisador.

Entender quem são esses micro-organismos e o que eles estão fazendo lá é o primeiro passo para futuras pesquisas que auxiliem na escolha do melhor manejo que preserve essa diversidade.”
Redundância

A conversão da floresta em áreas de agricultura ou pastagem é feita por meio do “corte e queima”, seguidos pelo preparo do solo para o plantio. “Essa atividade tem grande efeito sobre o solo, alterando drasticamente sua composição física e química”, apontaMendes. Segundo o biólogo, alguns grupos microbianos respondem a alterações em parâmetros específicos, como pH, sódio, alumínio, entre outros. Portanto, é possível afirmar que a alteração química do solo, provocada pelo tipo de manejo, é o principal fator que afeta o microbioma presente ali.

Ao avaliar a diversidade em detalhes, a pesquisa concluiu que o aumento da diversidade nas áreas alteradas levou a uma redundância funcional, ou seja, diferentes grupos de micro-organismos realizando uma mesma função. “A redundância funcional é importante para manter o funcionamento do sistema, uma vez que drásticas alterações do solo podem eliminar alguns grupos”, explica o cientista. “Dessa forma, o ambiente em equilíbrio é mantido por uma baixa diversidade, mas alta abundância microbiana, enquanto um desequilíbrio leva a um aumento da diversidade para que funções importantes do ecossistema não sejam perdidas.”

Premiado na categoria Ciências Agrárias do Prêmio Tese Destaque USP deste ano, o trabalho foi orientado pela professora Siu Mui Tsai, no Laboratório de Biologia Celular e Molecular do Cena. Parte do estudo aconteceu no Netherlands Institute of Ecology (NIOO-KNAW), em Wageningen (Holanda), sob a supervisão de Eiko Eurya Kuramae.

O próximo passo, ele anuncia, é identificar os grupos de micro-organismos que promovam benefícios às plantas, de modo a auxiliar a produção agrícola, melhorando a fertilidade do solo e promovendo um uso mais sustentável do meio ambiente. Um exemplo prático seria estimular o aumento dos grupos microbianos que fixam nitrogênio no solo, diminuindo assim o uso de insumos artificiais.

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