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17 contradições e o fim do capitalismo, de David Harvey

A Boitempo acaba de lançar o aguardado 17 contradições e o fim do capitalismo, de David Harvey, um dos marxistas mais influentes da atualidade. Considerada o escrito mais político de Harvey, a obra coroa um projeto de décadas dedicado à interpretação e difusão do pensamento de Marx em um período de mutação do capitalismo. 

Do Blog da Boitempo, 27 de Setembro, 2016
Por Pedro Paulo Zahluth Bastos.

Partindo da ideia de que Karl Marx desvenda o sistema capitalista como estruturado por contradições, David Harvey arregaça as mangas e destrincha cada uma delas da forma como elas aparecem tanto no texto da obra prima de Marx, O capital, quanto nas dinâmicas reais do capitalismo global de hoje. Confira, abaixo, a orelha do livro escrita pelo revisor técnico da edição brasileira, Pedro Paulo Zahluth Bastos.
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Por Pedro Paulo Zahluth Bastos.

Para David Harvey, 17 contradições e o fim do capitalismo coroa o “Projeto Marx”, que orienta sua obra há vinte anos, repensando Karl Marx em época de mutação e crise do capitalismo. Harvey começa pelo método: aborda a diferença entre a contradição nas lógicas formal (dualista e estática) e dialética (relacional e dinâmica) e explica seu foco nas contradições do capital, e não do capitalismo. Longe de afirmar que contradições políticas, religiosas, étnicas e sexuais são redutíveis ao econômico, demonstra que as contradições do capital devem ser explicadas porque são universais e perpassam as demais. Cabe entender as contradições fundamentais do capital porque ele cria abstrações reais: busca reduzir a diversidade da natureza e do humano a meros momentos de sua reprodução, a ponto de ameaçar a vida no globo.

Embora a análise principie dos mecanismos econômicos fetichizados pelos quais a relação social do capital destrói e refaz a natureza, controla, explora, aliena e descarta o trabalho, expande-se e contrai-se em crises, nela não há espaço para reducionismo. A exposição ganha complexidade à medida que parte para as contradições mutáveis, abrindo as contradições do capital para a interação com as do capitalismo e avaliando suas formas no tempo e no espaço. Como geógrafo, dá justo destaque ao desenvolvimento desigual das regiões. E aborda como o Estado legitima e apoia a acumulação por espoliação: a transformação de direitos coletivos à terra e a outros valores de uso (moradia, saúde, educação etc.) em propriedade privada, de acesso desigual e regulado pelo capital em mercados que, muitas vezes, foram criados mediante violência, corrupção ou legalização do que já foi ilegal. Sua forma atual é o neoliberalismo, que justifica “tecnicamente” a privatização e a austeridade.

As contradições perigosas tratam da ameaça de extinção que a mercantilização generalizada e o crescimento exponencial colocam para a natureza e para a experiência humana não alienada. Por isso, a luta social não pode se limitar ao mundo do trabalho, devendo se estender a cada esfera do mundo da vida que o capital busca colonizar. O livro termina com um manifesto humanista revolucionário, aberto a que movimentos antissistêmicos localizados se unam, sem perder autonomia, para superar as contradições do capital. Dos livros de Harvey, é talvez o mais totalizante e, como ele gosta de dizer, o mais perigoso.

Confira o comentário de Ruy Braga, autor de A política do precariado: do populismo à hegemonia lulista, sobre a atualidade e importância de 17 contradições e o fim do capitalismo, de David Harvey, na TV Boitempo!

“A inovação é vista como subproduto do capitalismo quando, na verdade, é o resultado do intelecto humano e da vida em sociedade. Mantida em cativeiro pelo capital, concentra riqueza e gera desigualdade. Para David Harvey, o motor desse processo está falhando e temos a oportunidade de repensá-lo. Neste, que considerou seu livro mais perigoso, analisa as crises do capitalismo e como podemos, enfim, superá-lo. E propõe ideias para a prática política, subordinando a economia à dignidade humana e não ao lucro e garantindo que, sob novos parâmetros, a busca perpétua pela novidade continue.” – Leonardo Sakamoto

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