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Jornada de Agroecologia reafirma necessidade de construir espaços de resistência e autonomia frente ao capital

Durante quatro dias de atividades, cerca de 3000 mil agricultores e agricultoras, estudantes, pesquisadores, entre outros, mais uma vez, construíram uma nova página na história do Movimento de Agroecologia.


Jornada de Ecologia, 30 de julho de 2016 
Por Iris Pacheco e Michele Torinelli



Para Diego Moreira, da coordenação do MST, são 15 anos de Jornada, construindo esse Movimento de Agroecologia para que homens e mulheres possam viver dignamente.

“Nestes 15 anos, lembramos das batalhas contra a Monsanto e a Syngenta. Lembramos dos nossos mártires, como o companheiro Keno, e neles nos fortalecemos para continuar na luta em defesa da terra e do território da biodiversidade”, afirma.
É com esse tom de reafirmar a necessidade de construir espaços de resistência e autonomia frente ao capital e de denunciar o contexto político de golpe que vivemos, que a Carta da 15° Jornada de Agroecologia foi construída.

“A agroecologia não é mera técnica, é uma relação de cuidado com a nossa Casa Comum que é a Terra. Lutamos pela agroecologia como forma de superação das crises econômica, política, social e ambiental, sobretudo pela transformação da sociedade”, afirma trecho da Carta.



Plenária de encerramento da 15° Jornada de Agroecologia / Foto: Leandro Taques

O documento aponta que o golpe, e um Estado à serviço das classes dominantes, o desmonte das ainda incipientes conquistas na construção de políticas públicas para a agroecologia, constitui-se em grave retrocesso, uma vez que no país se mantém intocada a estrutura de concentração da terra, em que 1% dos proprietários rurais detém quase 50% das terras agricultáveis e acelera a atuação no Poder Legislativo para aprovar leis de agrotóxicos que permitem a liberação de mais agrotóxicos banidos em outros países, por seus efeitos nefastos que ameaçam a saúde humana e a natureza.

Um exemplo dessas leis é a PL 3200/2015 (PL do Veneno), que mascara o termo agrotóxico substituindo-o pelo termo “defensivo fitossanitário”, bem como através da criação da CTNFito, nos moldes da CTNBio, como instância facilitadora para a liberação de novos e mais danosos agrotóxicos.

O Teólogo e Escritor, Leonardo Boff, esteve presente na Jornada e falou sobre o processo de cuidado das sementes que herdamos dos povos africanos e o novo processo de colonização da América Latina e da África pelo capital.

“Querem reduzir todos nós a uma nova colônia, é um processo de recolonização da América Latina e da África. Eles já não têm mais alimentos e querem que nós produzamos para eles”, salienta Boff.

O escritor comenta ainda sobre o golpe no país e afirma que por trás desse golpe para tirar a Dilma do poder, existe uma questão geopolítica. “Aqui estávamos construindo um país mais soberano. Esse golpe vem pra impedir o crescimento dessa potência enorme – não potência militar, mas humana e ecológica”, conclui.



O escritor Leonardo Boff no encerramento da !5° Jornada de Agroecologia / Foto: Leandro Taques

Sementes: Patrimônio da humanidade

A 15ª Jornada de Agroecologia também se configura como espaço de socialização das necessidades dos povos dos campos e assim reafirma suas exigências históricas, a garantia do direito à terra e ao território aos povos indígenas, quilombolas, camponeses e povos de comunidades tradicionais, como condição primeira para avançar no projeto popular agroecológico e soberano para a agricultura.

Boff ressaltou a ameaça do capital às sementes e para a humanidade. “Hoje as sementes estão ameaçadas. O capital explorou tudo. E agora chegou ao ponto de explorar o segredo da vida, por meio de 2 pontos: o controle das fontes de água e das sementes. Eles sabem que quem controla a água controla a vida; e quem controla a vida tem poder. Por isso os capitalistas estão comprando as terras onde tem água. Outro ponto é a semente: controlando a alimentação, controlam a humanidade”, afirma.

A Jornada, que é uma experiência de massificação popular da pesquisa e da ciência, de troca de experiências práticas e de desenvolvimento do conhecimento e do método de camponês (a) a camponês (a), se fortalece no cuidado comum com a terra e os territórios, e na defesa das sementes como patrimônio da humanidade.

Nesta edição, os agricultores e agricultoras trouxeram uma tonelada e meia de sementes e mais de 100 variedades para a Troca de Sementes, que ocorre no encerramento do evento.




Troca de Sementes no encerramento / Foto: Leandro Taques

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