Boaventura de Sousa Santos
A ortodoxia sabe que o problema da Grécia é o problema da Europa e que a sua solução só poderá ser europeia.
Da página CartaMaior
A recente vitória do Partido Syriza na Grécia teve o sabor de uma segunda libertação da Europa. A primeira ocorreu há setenta anos, quando os aliados libertaram a Europa do jugo alemão nazi e puseram fim ao horror do holocausto. Um dos países que mais sofreu por mais tempo com a ocupação nazi e suas consequências foi a Grécia. A geoestratégia dos aliados fez com que à libertação se seguisse uma guerra civil para impedir que os patriotas comunistas e seus aliados chegassem ao poder. Num contexto democrático, e ante um poder alemão, agora econômico e não militar e disfarçado de ortodoxia europeia, os gregos voltam a revelar a mesma coragem de enfrentar adversários muito mais poderosos e de mostrar aos povos europeus, que sofrem as consequências do jugo dessa ortodoxia, que é possível resistir, que há alternativas e que é preciso correr riscos para que algo mude sem tudo ficar na mesma.
Tenho escrito que o capitalismo só é inflexível até sentir a necessidade de se adaptar às novas condições. Digo capitalismo e não União Europeia porque neste momento os interesses do capitalismo global são os únicos que contam nas decisões dos órgãos decisórios europeus. Se esta hipótese se confirmar, o risco assumido pelos gregos foi calculado e é possível que os portugueses, os espanhóis, os italianos e, em geral, todas as formigas europeias da fábula de Esopo possam beneficiar do aperto a que serão sujeitas as cigarras do norte e do sul (o sistema financeiro, os bancos e as oligarquias). Para já, estamos num momento alto de política simbólica, comunicação indireta, suspensão informal das regras de jogo, não provocação do "adversário" para além do necessário, fronteira ambígua entre o negociável e o inegociável. Mas a ortodoxia tremeu, e o tremor da sua bancada subalterna foi, como era de esperar, o mais patético. No caso português, indigno.
A Europa está num momento de bifurcação – ou se desmembra ou se refunda. Pode levar anos, mas não voltará a ser a mesma. É um momento de desequilíbrio pós-normal em que mínimas oscilações podem provocar grandes mudanças num ou noutro sentido. Eis os desafios. Primeiro, contra a ortodoxia, sempre afirmei que a dívida grega (ou portuguesa) era europeia e como tal devia ser tratada. A ortodoxia só agora se dá conta disso. Sabe que o problema da Grécia é o problema da Europa e que a sua solução só poderá ser europeia. Vai começar pela negação da realidade e "demonstrar" a especificidade do caso grego, mas a realidade vai gritar mais alto. Será fácil convencer os portugueses de que o cemitério em que se converteram as urgências hospitalares é o produto de um surto anormal de gripe que entretanto ninguém viu? Segundo, as políticas de austeridade provocam mais tarde ou mais cedo reações e é bom que elas ocorram por via democrática. Foi assim na América Latina, onde a austeridade dos anos noventa do século passado levou ao poder governos progressistas, para quem a bandeira principal era a luta contra a austeridade e a promoção do bem-estar das maiorias empobrecidas. Na Europa, pese embora o triunfo do Syriza e o possível triunfo do Podemos em Espanha, há um elemento adicional de incerteza. Ao contrário da América Latina, há também partidos de direita e de extrema direita que se dizem contra a austeridade. O fracasso das soluções de esquerda não conduzirá necessariamente a soluções de centro-esquerda ou centro direita. É por isso que a Europa nunca mais será a mesma.
O terceiro desafio são os EUA. A União Europeia tem vindo a perder autonomia em relação aos desígnios geoestratégicos dos EUA, como mostram o maior envolvimento na NATO, a nova guerra fria contra a Rússia, a parceria transatlântica de livre comércio, que desequilibra a favor das multinacionais norte-americanas os processos decisórios nacionais e europeus. Os grandes media querem-nos fazer querer que a Grécia é uma ameaça maior que a Ucrânia, mas os europeus sabem que, pelo contrário, na Grécia, a Europa está a fortalecer-se, na Ucrânia, está a enfraquecer-se. A Grécia deu um primeiro sinal de que não quer ser parte de uma Europa refém da guerra fria. Será esta posição parte da negociação? Até quando pode a UE ser lobo em Atenas e cordeiro em Washington?
Grupo de Pesquisa Sul-Sur
Este grupo se insere numa das linhas de pesquisa do LABMUNDO-BA/NPGA/EA/UFBA, Laboratório de Análise Política Mundial, Bahia, do Núcleo de Pós-graduação da Escola de Administração da UFBA. O grupo é formado por pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento e de diferentes instituições públicas de ensino e pesquisa.
Buscamos nos apropriar do conhecimento das inter-relações das dinâmicas socioespaciais (políticas, econômicas, culturais) dos países da América do Sul, especialmente do Brasil, da Bolívia, da Argentina e do Chile, privilegiando a análise histórica, que nos permite captar as especificidades do chamado “subdesenvolvimento”, expressas, claramente, na organização das economias dos diversos povos, nos grupos sociais, no espaço.
Nosso campo de investigação dialoga com os campos da Geopolítica, Geografia Crítica, da Economia Política e da Ecologia Política. Pretendemos compreender as novas cartografias que vêm se desenhando na América do Sul nos dois circuitos da economia postulados por Milton Santos, o circuito inferior e o circuito superior. Construiremos, desse modo, algumas cartografias de ação, inspirados na proposta da socióloga Ana Clara Torres Ribeiro, especialmente dos diversos movimentos sociopolíticos dessa região, das últimas décadas do século XX à contemporaneidade.
Interessa-nos, sobretudo, a compreensão e a visibilidade das diferentes reações e movimentos dos países do Sul à dinâmica hegemônica global, os espaços de cooperação e integração criados, as potencialidades de criação de novos espaços e os seus significados para o fortalecimento da integração e da cooperação entre os países do Sul, do ponto de vista de outros paradigmas de civilização, a partir de uma epistemologia do sul. Através das cartografias de ação, buscamos perceber as antigas e novas formas de organização social e política, bem como os espaços de cooperação SUL-SUL aí gestados. Consideramos a integração e a cooperação Sul-Sul como espaços potenciais da construção de novos caminhos de civilização que superem a violência do desenvolvimento da forma em que ele é postulado e praticado.
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